Salve aventureiro, você conhece o RPG nacional Tormenta? É um cenário de RPG que está por aí a mais de 20 anos e formou várias gerações de RPGistas. O Tormenta, agora chamado de Tormenta20, é muito característico por seguir uma fórmula interessante: Um cenário medieval mágico, com muitos clichês e toques de animes. Resultando em um RPG de mesa único com guerreiros, magos, clérigos e tudo do mais tradicional misturado a balões explosivos, dinossauros e coisas muito caricatas. Dentre essas coisas está o panteão composto por 20 deuses e um deusa em especial é o tema desse post: Allihanna, a Deusa de Natureza do cenário Tormenta.
Antes de falar de Allihanna vou explicar o que é um Panteão para quem está chegando agora no mundo da mitologia e RPG. Primeiro a palavra PANTEÃO vem do grego e quer dizer “todos os deuses”, ou seja, o conjunto dos deuses de uma religião. Esse termo foi adaptado no RPG para regiões, mundos ou dimensões. Portanto quando falamos sobre um panteão em RPG (normalmente) estamos falando das regras envolvendo os deuses de um mundo. Sendo que cada deus tem sua própria religião normalmente. O mundo de Tormenta, Arton, contém 20 deuses.
Em Arton, o que torna um deus “real” é possuir um certo número de adoradores, que levam a ele poder assumir um dos 20 postos de deuses maiores disponíveis e a assumir um domínio ou um conjunto de domínios que caracterizarão o que compete a ela/ele em termos de responsabilidade e poderes. Allihanna é um dos deuses que estão presentes desde a criação de Arton, foi ela que deu vida aos primeiros animais e formas de vida que caminhava e rastejavam sob ou sobre a terra.
Allihanna é uma deusa que não tem sua tendência definida, mas ao analisar que ela é a adorada por druidas, bárbaros, povos selvagens e animais inteligentes, presume-se que seu posicionamento tende a Neutro. Ela tem uma grande inclinação pela preservação da vida e uma visão da mesma como o ciclo natural onde é natural um predador caçar para se alimentar de um outro mais fraco, por isso o mais provável é uma deusa totalmente neutra ou neutra e boa.
Outra ponto importante que normalmente é esquecido e precisa ser destacado é que Allihanna além de protetora dos animais, ela é a guardiã das plantas e derivados. Por exemplo, se você é um anão ganancioso que está destruindo uma montanha para conseguir ouro e ainda que não mate animais está destruindo vidas e gerando desequilíbrio, você pode conseguir um devoto de Allihanna como inimigo.
Talvez uma das obrigações mais simples de se seguir interpretativamente, mas mecanicamente impõe consideráveis restrições. A restrição principal é que nenhum seguidor possa usar armadura ou escudo de metal (note que armas sim). A segunda parte é importante para compor um bom devoto e deve haver muita atenção nisso: Um devoto da deusa Allihanna nunca pode matar um animal por uma razão diferente de preservar a própria vida.
Aqui tem algumas implicações importantes que muitas vezes são desconsideradas, por exemplo, vamos imaginar que você é um clérigo de nível 10 e um lobo te ataca. Ele não ameaça sua vida em absolutamente nada, nada que ele fizer a menos que você esteja MUITO ferido e sem magias poderia te afetar, se você matar ele, está indo contra o as suas restrições.
Não podemos esquecer o segundo nível de dificuldade de interpretação que é quem adquire o talento Fundamentalista que adiciona uma camada de complexidade em troca de atributos e aumento de PMs totais.
A restrição se torna: Nunca usar armaduras e escudos, nunca matar animais selvagens, nunca se alimentar da carne de animais. Aqui é importante notar que na restrição o nunca foi usado três vezes, deixando bem claro que não existe flexibilização da regra. Se você matar, deixar morrer, ajudar a matar, permitir a matança ou concordar de qualquer forma com a morte e animais, perderá seus poderes até compensar isso frente a deusa.
Em Tormenta20 devotos de Allihanna não podem usar armaduras e escudos feitos de metal, assim como na versão anterior. Por isso essas nuances permanecem gerando várias ideias interessantes para jogadores focados em mecânica, por exemplo, como ter uma armadura completa sem ser de metal? Existem várias respostas possíveis e impossíveis, mas o mais importante são como as histórias usarão isso.
Agora uma nova nuance interessante é que devotos de Allihanna não podem descansar em nenhuma comunidade maior que uma aldeia (não perdem seus poderes, mas também não recuperam pontos de vida ou mana). E o texto do playtest 2 de Tormenta20 segue: “sempre preferem o relento a um quarto de estalagem”. Isso será gancho para infinitas ideias em estilo OSR (Old School Revival, ou Revivendo Estilos Clássicos) para as narrativas que se preocuparão com os mínimos aspectos de cotidiano.
“Não podem usar armaduras e escudos feitos de metal“
“Não podem descansar em nenhuma comunidade maior que uma aldeia“
Para quem não sabe, OSR são os jogos de RPG que remetem aos primeiros lançados. Deixando grande parte das decisões de mecânicas para o narrador das histórias.
Allihanna é uma deusa que ocupa uma esfera de responsabilidade que impacta em cada mínima nuance da vida de todos sobre Arton. Toda a cadeia alimentar e de sobrevivência está ligada diretamente a ela. Mesmo com grandes poderes mágicos existindo em Arton, a grande maioria das populações não se beneficiam deles diretamente, na verdade mais perdem que ganham na maioria das vezes.
Agora imagine alguém que seja devoto a todas as nuances disso que Allihanna representa. É difícil imaginar. Difícil porque raramente alguém irá se dedicar a todas as características de um deus. Os devotos tendem a escolher partes do aspecto que convergem com suas vidas e histórias. Um filho de fazendeiros poderia cultuar os aspectos ligados às plantas, enquanto os bárbaros da União Púrpura cultuará sua forma de caçadora, enquanto uma druida estudiosa de Pondsmânia poderá cultuar o nascimento de animais e um aluno da academia arcana cultuaria a diversidade animal.
O óbvio a se explorar um devoto de Allihanna é a questão de ativismo ambiental. Explorável desde níveis baixos, por exemplo, ensinando lenhadores a melhor forma de repor a floresta destruída ou em níveis épicos lidando com todo a sustentação do ecossistema de Arton e a Tormenta.
É bastante interessante para jogadores e narradores explorarem o não óbvio em Arton, que gerariam contrastes extremamente marcantes, como exemplo, um aventureiro tentando montar uma organização que arrecada fundos para algum reinado combater o uso incorreto de recursos naturais.
Pense em druidas ou algum personagem com Companheiro Animal e suas capacidade de literalmente falar com eles e entender suas dores, desejos e ansiedades. Imagine um companheiro animal canídeo (cachorro, lobo, lobo gigante e afins…) que caminha pelas ruas de Valkaria e vê outros cachorros largados pela rua e famintos, como eles reagiriam? Aqui a deixa é para Rangers, Druidas, Clérigos e raças que falam com animais.
E um druida quando assume a Forma Animal e sente o cheiro da poluição e corrupção das cidades. Como ele reagiria? Um mestre atento a esse fato, descreveria a fumaça das casas, o cheiro de fezes e os dejetos ao redor que fora da forma animal são facilmente ignorados, na forma animal são impossíveis de serem ignorados.
Mas o contexto ambiental pode ser estendido intensamente por visões mais épicas, por exemplo, imagine como uma grande companhia de mercadores reagiria caso um dragão tenha se alocado em algum lugar e todos os animais daquela região sentindo o perigo se realocaram para um lugar que era exatamente onde algo precioso era produzido ou no meio de uma importante rota comercial. Agora imagine se for um dragão bondoso e o objetivo seja uma negociação política de territórios de dragões. As coisas crescem de simples aspectos cotidianos para complexas tramas narrativas.
Agora de longe uma das questões mais interessantes de serem exploradas sobre Allihanna é que ela repudia a Tormenta, porque ela essencialmente deturpa e destrói suas criações. Aqui a história pode trabalhar desde aspectos mais simples, como a dinâmica de aceitação de um Lefeu jogador por um devoto de Allihanna ao confronto e as linhas de frente da guerra contra a Tormenta.
Como falei em “Como criar devotos” acima, existem múltiplos focos para um devoto e focar em enfrentar a Tormenta é talvez um dos mais atrozes, destruidores e complexos. Primeiro porque ela só é propriamente enfrentável em níveis muito elevados e segundo porque provavelmente isso vai cobrar um preço bem elevado pela sanidade do seu devoto.
No livro O Panteão, é contada de forma resumida a história da sumo-sacerdotisa de Allihanna, Lisandra. Que é uma meia Dríade, meia humana, filha do Mestre Arsenal que cresceu “educada” por um trog. Esse livro fala “de todos os heróis, druidas são aqueles que mais odeiam os invasores aberrantes” (vulgo Tormenta) e Lisandra é um druida, só que isso nem é sua característica mais marcante. Lisandra é uma das mais poderosas Guerreiras do mundo de Arton e tem uma longa história se envolvendo em tramas do panteão. Lisandra para completar é a mais poderosa sumo-sacerdotisa de todos os 20 deuses.
Na introdução da história de Lisandra, Razleen Greenleaf (antigo sumo-sacerdote de Allihanna) é citado de uma forma bastante interessante: “afastou-se mais e mais da civilização – até mergulhar na Floresta do Espinheiro” em Lannestull e “nunca mais saiu”. O texto traz um personagem triste e frustrado com a vida e conta depois sobre sua reclusão, mas mesmo assim ele ainda preside o conselho dos druidas, mostrando que Allihanna ainda o aceitava assim. Mostrando uma face tolerante frente a derrota de seus devotos.
Não existem detalhamentos de como os devotos veem a deusa (somente bárbaros e caçadores), mas existem vários indícios que dão boas pistas para construção dessa visão. Allihanna é feroz, mas tolerante, brutal, mas se compadece do pacífico e é uma inspiração profunda para toda Arton lutar mesmo sem ser uma entidade essencialmente guerreira. Além de contra parte de Megalokk, alguns textos falam sobre o fato e Allihanna e Megalokk serem irmãos.
Os devotos de Allihanna provavelmente terão como característica comum a repulsão por tudo que está ligado a Tormenta, e mesmo que isso não seja uma restrição imposta, é quase como um dogma incorporado.
Allihanna é uma deusa incrível, carregada de representação tribal em sua forma de muitos animais a tudo que ela representa para a existência mundana. Ela é a base da sustentação da cadeia alimentar, por isso é um dos deuses mais importantes do panteão de Arton. Estudá-la foi deslumbrante porque ela está em cada canto de Arton e seu antagonismo frente a Tormenta pode gerar infinitas possibilidades de narrativa e histórias.
Considerando que em Arton os deuses “são”. Literalmente são que representam, podemos dizer que ela é um dos deuses mais importantes para Arton. Quais novas aventuras você vai criar a partir das ideias deste artigo?
Você está pronto para lutar por Allihanna?
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