RPG de mesa

O que é Baixa Fantasia e por que jogar? – Parte 1

Saudações caros leitores e demais formas de vida baseadas em carbono que possam estar lendo esse artigo! Me chamo Stefan Costa e este é o primeiro de muitos – eu espero – artigos que pretendo escrever regularmente para o Orc & Roll. O meu principal foco aqui será “pensar fora da caixa”, evitando focar em regras ou adaptações mecânicas, mas sim trazer ideias e dicas para ajudar tanto aos mestres quanto os jogadores a customizar o cenário e jogo ao seu gosto. E nós vamos começar com o tema: O que é Baixa Fantasia e por que jogar?

Decidi dividir esse artigo em duas partes, e na primeira vou abordar de modo mais técnico a criação de cenários e as principais características do gênero, e na segunda vou entrar em detalhes mais específicos a cerca da magia, dos personagens e como conduzir uma narrativa. Acredito que dessa forma o conteúdo ficará mais simples de ser absorvido.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa…

O que é Baixa Fantasia?

Um subgênero da literatura fantástica, que se apresenta como uma fantasia em baixa escala que apresenta temas e questões paralelas ou similares as da nossa realidade, sendo – de certo modo – o extremo oposto da Alta Fantasia que normalmente pauta a grande maioria dos cenários e sistemas de RPG.

Contudo antes de nos aprofundarmos mais precisamos de um certo conhecimento técnico. Quando se trata da elaboração de histórias e cenários de fantasia é preciso ter em mente dois conceitos distintos: o Mundo Primário e o Mundo Secundário.

O mundo primário é para todos os efeitos aquele que descreve a realidade de modo idêntico, ou com extrema similaridade, a realidade como nós conhecemos enquanto o mundo secundário descreve uma realidade diferenciada daquela que estamos acostumados, e são estas diferenças que caracterizam os diferentes gêneros e subgêneros da literatura e da narração, mas como diferenciá-los?

Há um sem-número de formas pelas quais você pode fazer isso, o método que eu prefiro usar se resume a quatro perguntas simples:

  • De que forma o mundo subverte as leis naturais? (leis da física, geografia, astronomia etc.).
  • Quão poderosos são os personagens? (quase humanos, sobre-humanos ou épicos).
  • Quão presente é a magia? (ela é rara, perigosa, incomum ou trivial).
  • Qual a escala das ameaças enfrentadas? (locais, regionais, nacionais ou globais).

Entretanto antes de responder as perguntas é preciso que você, caro leitor, saiba que tipo de mundo você está trabalhando. Partindo do pressuposto de que ambientaremos o cenário de jogo em um mundo secundário, é preciso saber em qual deles a história se passará, sendo essa escolha a primeira decisão que vai caracterizar o cenário. Há três tipos de mundos secundários:

  • O mundo primário não existe (Senhor dos Anéis, Star Wars, Conan, o bárbaro).
  • O mundo secundário é paralelo ao primário (Harry Potter, Hellboy, Arquivo X).
  • O mundo secundário é acessado a partir do primário (Labirinto do Fauna, Crônicas de Nárnia, Peter Pan).

Por definição o mundo secundário é um cenário fantástico paralelo ou oculto do nosso que não obedece às leis naturais que regulam a nossa realidade, mas que segue uma coerência interna que seja reconhecível para seus habitantes e seus jogadores.

Legal, mas o que isso tem a ver com a Baixa Fantasia?

Com os tópicos mencionados anteriormente é possível desenvolver uma base na qual apoiar suas ideias e preservar a coerência do cenário, o que é muito útil para quando formos falar da magia e do sobrenatural no seu mundo de campanha – tema do próximo artigo. Mas a partir destes mesmos princípios podemos estabelecer alguns axiomas que caracterizam a Baixa Fantasia, como:

  • A magia e o sobrenatural são menos presentes.
  • Aborda temas e dilemas morais mais próximos da realidade.
  • Falta de divisão moral, ou amoralidade completa.
  • As ameaças são de uma escala menor, mas não menos perigosas.
  • Os personagens têm menos “recursos” a sua disposição.

Além disso a Baixa Fantasia tipicamente retrata personagens que são pouco mais do que humanos capacitados ou muito habilidosos que se deparam com ameaças mundanas e sobrenaturais, muitas vezes em uma escala local ou regional. O sobrenatural é real e ativo, porém sua presença é incomum e perigosa, o que confere maior peso aos mitos, lendas e superstições, além de valorizar a presença da magia e seus fenômenos.

Você se aventuraria neste castelo?

Beleza! Mas por que então eu devo trocar o meu D&D, para jogar algo assim?

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Não dá pra responder essa pergunta de outra forma que não… Gosto!

Essa pode ser uma excelente alternativa para as pessoas que não tem mais paciência para todos os milhares de clichês da fantasia medieval tradicional, ou para aqueles – e eu me incluo nessa – que apreciam histórias e personagens que mais são “pé no chão” que superam os desafios com mais dificuldades e menos recursos do que muitos heróis tradicionais, o que evoca a uma sensação de superação, suas conquistas são mais árduas o que nos leva a torcer por ele e elevar a escala de seus feitos mesmo que sejam considerados “menores” em relação a heróis mais poderosos.

Um bom exemplo disso é a relação entre Batman e Superman. Não é de hoje que vemos o homem de aço viajando pelo espaço, combatendo toda sorte de monstruosidades e tiranos alienígenas, ou esmurrando super seres no meio da cidade após salvar as pessoas e impedir alguma tragédia, natural ou acidental. Feitos grandiosos para um personagem igualmente poderoso.

O Batman por outro lado – salvo as licenças poéticas – é um humano comum, ainda que extremamente capacitado, que se vale de suas habilidades para superar os desafios, seus inimigos são em sua maioria mafiosos e criminosos insanos e muitas vezes ele precisa da ajuda de aliados e de equipamentos especiais para fazer frente as ameaças com as quais se depara. Feitos muito abaixo das capacidades do Superman, ainda sim impressionantes se considerarmos as capacidades de um cidadão comum.

Essa mesma comparação pode ser feita entre a Alta e a Baixa Fantasia, o passado e habilidades de cada personagem fazem toda a diferença na narrativa, no fim das contas não é só o nível de poder dos personagens que resolve o problema, mas sim os próprios personagens.

Referências sobre Baixa Fantasia

O gênero é também apresenta uma maior flexibilidade de adaptações de arquétipos e de cenários, podendo ir além da pseudo-idade média onde a fantasia tradicionalmente costuma se estagnar – mas isso é assunto pra outro artigo – muito embora não pareça esse é um subgênero relativamente bem servido de filmes, séries/animes, quadrinhos, livros e RPG.

Da parte de filmes e séries podemos citar:

  • O 13º Guerreiro
  • Os Últimos Cavaleiros
  • Hércules (2014)
  • Game of Thrones
  • Vikings
  • Fullmetal Alchemist Brotherhood
  • Samurai X
  • Samurai Champloo

Quanto a HQs, livros e mangás, vale apena citar:

  • Questão, da DC comics
  • O Guerreiro (Warlord), da DC comics
  • Arslan Senki
  • Conan, o bárbaro
  • O Império de Diamante
  • A Trilogia “A Primeira Lei”
  • O Espadachim de Carvão

No que se refere a jogos podemos citar como exemplo:

  • 17th Century Minimalist
  • Senhores da Guerra (Old Dragon)
  • Belregard
  • Senhores da Guerra: Vikings (Old Dragon)
  • Lion & Dragon
  • 7th Sea
  • The Black Hack (certas adaptações)
  • A saga Assassin´s Creed.
  • Rise: Son of Rome
  • Hellblade: Senua’s Sacrifice

Conclusão

Para concluir não posso deixar de mencionar que muitos vão notar que algumas das referências e características que eu descrevi podem ser aplicadas a outros gêneros literários, isso se deve ao fato de que não estamos lidando com uma ciência exata, mas sim com conjuntos de referências de diferentes autores, em diferentes períodos, com diferentes realidades, que irão transpor elementos das obras nas quais se inspiram para suas próprias criações, o que você caro leitor, na posição de mestre ou jogador eu indico a fazer.

Afinal, nada melhor do que trazer parte de sua personalidade para o mundo de campanha e nos temas a abordados para criar um cenário única e aventuras memoráveis na mesa de jogo. No próximo artigo vou trazer abordagens com relação a magia, o sobrenatural e dicas de elementos para tornar um cenário de Baixa Fantasia um mundo único e rico para os seus jogadores.

Até mais!


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Stefan Costa

"Professor de Geografia, leitor voraz, tagarela de muitas ideias e aspirante a escritor."

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