Histórias e Experiência

Personagens: Jogar com o sexo oposto

Fala pessoal! No post de hoje(você pode ver mais posts meus clicando aqui) eu, NtDream, venho levantar um questionamento antigo das minhas épocas onde começávamos a explorar novos personagens, aventuras e desafios jogando RPG.

Seria uma manhã como outra qualquer em meu colégio do ensino médio, se não fosse apenas um detalhe: mataríamos aula (bons tempos rsrsrs) e iriamos todos jogar RPG depois dos primeiros tempos de aula. Era o primeiro ano, nem todos se conheciam e principalmente nunca havíamos jogado RPG juntos. Dali a muitos anos este seria o embrião de um grupo constante de amigos que joga RPG de 2002 até os domingos de hoje.

Eram bos tempos para o RPG e ao contrário da massa que só tinha olhos para “Vampire” . Iríamos jogar o incrível D&D 3ª Edição, e a Dragão Brasil permeava estantes de muitos de nós. E claro, eu estava com a última edição nas mãos, a ótima revista número 99. 

Como não poderia deixar de ser…

Eu estava ávido por jogar com coisas diferentes. E para minha alegria, nesta edição haviam regras para jogar com os míticos e misteriosos Magos das Mil e Uma Noites, os Sha’ir. As regras estavam inteiras, então o mestre não resistiu muito (mas depois acabou se arrependendo rsrsrsrs), e ficou decidido que eu iria jogar como um deles.

Conversa vai, conversa vem, quase um dia inteiro criando as fichas e então chegamos a um fato que não passou incólume: Decidi “jogar de mulher”. Óbvio, a zoação foi geral.

Não me lembro bem dos pormenores, mas lembro de uma conversa com nosso mestre Wagner,  sobre certas necessidades na trama e então decidi isso. Por que? Não sei. Posso te dizer uma coisa, eu sempre buscava uma coisa nos RPGs: DESAFIO.

Com certeza seria um desafio jogar com uma mulher tendo como mestre o Wagner. Pois eu sabia que iria enfrentar as agruras que uma mulher deveria enfrentar em um ambiente medieval e inóspito.

Meus Backgrounds, modéstia a parte (ou falta dela) sempre foram ricos, e bem estruturados então nasceu mais um dos meus memoráveis personagens, com que joguei por muito tempo pois aquela campanha foi bem longa. 

Eis aqui algumas reclamações:

É óbvio que os amigos vem logo com aquelas brincadeiras bestas de vou te comer  conquistar e apostas pra ver quem vai chegar primeiro, mas eu sempre considerei isso uma coisa de jogadores inexperientes. Eu não estava ali para ser zoado, estava ali para um desafio de INTERPRETAÇÃO. E interpretei. Acredito que interpretei tão bem que adquiri o respeito e admiração tão desejados por todos os meus personagens, mas com ela foi especial por esse motivo e isso antes mesmo de revelar sua identidade.

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Ela passou um bom tempo falando só o necessário, mudando a voz com magia, e principalmente com o rosto coberto pelos turbantes que protegem seu povo das areias cortantes do deserto, e sua revelação como uma mulher foi um evento no grupo.

Sim, me diverti bastante jogando com ela. E com o tempo, simplesmente não havia mais espaço para as brincadeiras bestas, mas foi a primeira vez que pude perceber este tabu nas mesas de jogo. Me peguei nos anos seguintes percebendo que em grupos de jogadores masculinos, personagens femininos são escassos, a maioria das vezes nulos.

Todas as vezes que presenciei meninas jogando RPG, suas contrapartes também eram femininas. Me peguei pensando se elas também não passariam pelos mesmos preconceitos, ou pior possuíam os mesmos bloqueios que tanto vi nas mesas de jogo.

Detalhes que fazem toda a diferença

Wagner era um excelente mestre, e são incríveis as coisas que os mestres bons podem fazer em uma campanha. Ele e me fez passar por algumas dificuldades que eu como homem nunca nem me imaginei passar (sim eu rolei sedução pra um grupo de guardas e depois inutilizei a todos) e não é isso de que se trata o RPG? novos mundos, novas experiências e novos desafios de interpretação?

Excetuando-se as estratégias escusas utilizadas nos MMO’s RPG, onde homens se fingem de menininhas indefesas para ganhar itens, estou falando de RPG de mesa onde a interação humana é necessária a um nível muito maior, e as suas ações tem consequências reais, imediatas e inesperadas. Nos MMO’s, os “SheMales” estão utilizando da idiotice ingenuidade dos outros players para benefício próprio, e isso não constitui desafio interpretativo nenhum.

Deixo aqui aberto um canal de discussão onde gostaria que comentassem sobre minhas percepções. Suas percepções e esta sombra que paira sobre as mesas de jogo, em forma de bloqueio a este tipo de experiência.

Não sou homossexual e nem seria apenas pela escolha dos sexos dos meus personagens. Acredito que menos preconceito e mais diversão as vezes é algo muito necessário nas mesas de jogo onde o que deve reinar é a diversão. Tenho certeza que com o mestre certo, aventuras inteiras sob uma nova ótica podem ser muito mais interessantes do que aquelas aventuras que muitas vezes se tornam mais do mesmo.

E acreditem, tudo isso pode gerar boas risadas. Se não suas, pelo menos pros seus amigos! E como já disse (e enfatizo), consciente de estar sendo repetitivo: O importante é se divertir.

NtDream

Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados.

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