Estamos muitos acostumados a ouvir de coachs e propagandas da rede Globo, sobre o poder de uma coletividade, não sei se isso vale para você caro leitor, mas pra mim esse tipo de coisa sempre entrou por um ouvido e saiu pelo outro, pode me chamar de pessimista se quiser, mas eu nunca levei esse tipo de coisa a sério… até recentemente.
Não apenas pela oportunidade de estar escrevendo para você nesse momento, o que nada mais é do que esforço coletivo de várias pessoas competentes, mas também porque recentemente eu pus minhas mãos no incrível bestiário criado pela Academia De Mestres, e posso dizer logo de cara que eu nunca fiquei tão feliz de estar errado.
O Fantástico Guia Ilustrado de Ameaças é nada mais do que o resultado espetacular de um imenso esforço coletivo da comunidade de fãs de Tormenta 20, da editora Jambô, que cada dia mais me surpreende, logo de início nos agradecimentos do PDF fui impressionado pela quantidade de colaboradores do projeto o que imediatamente me chamou a atenção e mudo minha “chave de leitura”, de mais um material feito por um fã criativo, para um material de sério, fruto de muito tempo e dedicação, o que por si só já é o seu primeiro ponto positivo…. Mas vamos por partes.
Antes de finalmente declarar minhas opiniões a cerca desse material, uma dose de honestidade para com você, caro leitor, é necessária. Eu não sou um fã de Tormenta RPG (atire suas pedras aqui e destrua o seu monitor), nunca li os romances de Lionel Caldela – exceto Ruff Ghanor –, nunca joguei nesse cenário e só recentemente eu comecei a timidamente ler suas publicações mais recentes.
Dito isso, está é uma análise “fria” desprovida de qualquer tipo de tendência, não venho aqui com opiniões prévias ou influenciado por qualquer tipo de polêmica ou favoritismo acerca da marca, trago aqui minha resenha e opiniões sinceras sobre o que li, sem fazer juízo das regras ou balanceamento do jogo, mas como obra completa.
Gostaria de começar pelas ilustrações do livro, elas de longe não tem a mesma qualidade industrial ou estilo anime que vemos nas edições mais recentes dos materiais de Tormenta e isso é muito bom na verdade. Isso faz com que o livro tenha uma identidade próprio inclusive na apresentação de suas criaturas, que variam entre bobas e divertidas há coisas que simplesmente inspiram um pesadelo (Cavaleiro Rubro e Arranha-Rostos que o digam!).
E não se enganem quando digo que algumas das ilustrações e criaturas deste bestiário são “bobas” ou divertidas, todas elas são muito bem pensadas e são o sonho de um mestre sádico, sendo quase uma carta de amor ao próprio Caldela, que notoriamente chafurda na escatologia e no sadismo. Quando digo que algumas criaturas são bobas, me refiro a ideia básica delas e não sua execução, convenhamos que ser atacado pela mobília de uma bruxa pode ser igualmente aterrorizante e hilário, mas de forma alguma isso é um demérito.
Aqui temos a criatividade solta e sem medo de ser feliz e com aquele gostinho legal de “foi o Brasil que fez”, o livro tem aquela cara e estilo que só quem é brasileiro sabe como é e que no fundo enche a gente de orgulho. Voltando a criatividade, temos aqui referências muito sagazes a personagens clássicos como Jason e Hanibal Lecter, além dos Aboleth – uma das minhas criaturas preferidas – que aqui é retratado com toda a sua glória e ameaça, além da nossa própria fauna e flora, com ameaças que dariam trabalho até aos mais intrépidos aventureiros de Arton.
Antes de partir para o próximo tópico queria destacar aqui os personagens Dandara e Neri, que imediatamente me chamaram a atenção não apenas por sua arte, que disparado é a melhor do livro (na minha humilde opinião),como também com sua excelente apresentação, habilidades e história, de modo que eu me perguntava o porquê deles estarem em um bestiário e não em um suplemento de Heróis de Arton ou algo assim (fica a dica), de todo jeito meus parabéns aos seus autores, o que nos leva ao próximo ponto…
Fica claro aqui que este livro é um esforço coletivo, muito por conta da óbvia aleatoriedade e
desconexão das criaturas que são apresentadas uma atrás da outra quase como um catálogo da
Jequiti (Silvio Santos paga nóis!!!!!), talvez fosse essa a ideia mesmo, mas sinto que seria legal se
o material tivesse uma temática clara, ao invés de “só” um bestiário, uma vez que me pareceu que
as criaturas com temática mais voltada para o horror e para as fauna/ flora exótica acabaram sendo
mais desenvolvidas.
Isso não prejudica em nada a experiência de leitura já que somos informados logo no prefácio que
este é um trabalho feito na base de “suor e lágrimas”, e muito amor e boa vontade, devo
acrescentar.
A edição, diagramação e organização do livro é sensacional, não deve em nada para uma
publicação oficial nesse ponto, embora haja alguns pontos onde o texto dá lugar a ilustração, que
acredito eu, podiam ser mais bem aproveitados não só para deixar a leitura mais fluida como
também ganhar um pouco mais de espaço, há momentos em que eles escorregaram nesse quesito,
mas nada que prejudique a leitura ou que não possa ser ajustado em edições futuras.
Novamente devo ressaltar que as criaturas do livro não deixam nada a desejar, inclusive no quesito
dificuldade, o próprio livro afirma que algumas delas só devem ser inclusas em jogo por um mestre
mais experiente, independente disso cada uma delas já me despertava não só ideias de cenas de
ação em mesa como também aventuras inteiras, o tempo todo eu me pegava imaginando como
incluir três ou quatro daqueles seres em uma única aventura.
Desse modo sou obrigado a concluir que a pior parte desse livro é que ele acaba, ele não é muito
curto nem exageradamente longo, tem o número de páginas ideal para ser uma leitura rica para a
sua mesa, mas sem parecer um tomo medieval, ou um folheto de rodoviária, mas sim um material
que posso chamar de completo dentro do que ele se propõe a fazer.
O livro conta com uma pequena introdução em forma de conto que chega com “os dois pés no
peito” para nos tirar do lugar comum da fantasia e nos incluir na temática da obra que é a
diversidade, com personagens breves, mas marcantes, concluindo com uma reflexão que, eu na
posição de licenciado, acredito transcender o âmbito do entretenimento e passa a falar sobre a
própria cultura brasileira com seu “complexo de vira-lata”, assim como o protagonista do conto,
temos uma visão muito equivocada. Não vou me estender mais nesse ponto recomendo que leiam
e tirem suas próprias conclusões.
Espero sinceramente que esta seja só a primeira de muitas outras inciativas futuras da Academia
dos Mestres e o seu poder de coletividade, afinal não são todas as iniciativas que começam bem
dessa forma, aguardo ansiosamente por mais publicações suas no futuro.
E que isso sirva de lição a todos os coitados que pensam que podem fazer de tudo sozinhos. Não
é sobre isso que se trata o RPG, mas sim de juntar cabeças muito diferentes em prol de cumprir
um objetivo, seja como aventureiro ou como autores que querem mostrar ao mundo o que se passa
nas suas cabeças, nesse quesito eles são mais do que bem-sucedidos, a Academia dos Mestres
é uma referência.
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