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The Batman – Inovando sem Perder a Essência

Olá, meus queridos bípedes e donos de polegares opositores!!!! Depois de mais de seis meses de ausência, eis que volto mais uma vez para este maravilhoso blog e, de quebra, com uma crítica/ resenha mais do que especial. Minha ausência da casa teve um motivo pelo qual eu irei discorrer em outra ocasião mas, por enquanto, fiquem com as minhas observações a cerca de THE BATMAN

O assunto de hoje é o novo filme do nosso querido homem-morcego. Chegando aos cinemas no último dia 03 de março, o filme THE BATMAN, estrelado por Robert Pattinson, mais conhecido pelo grande público por seu papel como o vampiro Edward da Saga Crepúsculo, e dirigido por Matt Reeves, responsável pela segunda e terceira parte da trilogia do Planeta dos Macacos. O filme chega com altas expectativas e com a missão de redimir a queda de qualidade que as produções cinematográficas da DC Comics e Warner tem passado nos últimos anos. 

The Batman (Warner Bros. Pictures/Reprodução)

A produção do filme foi repleta de polêmicas uma vez que, originalmente, ele seria dirigido e estrelado por Ben Affleck, tendo o vilão Exterminador como antagonista, contudo, devido aos problemas do ator com o estúdio, as polêmicas relacionadas á Liga da Justiça e o subsequente fracasso da produção levaram ao filme que temos hoje. O projeto foi reinventado e com isso temos um filme nada mais do que espetacular entre nós e sobre ele que iremos falar sobre. Sem spoilers, é claro. 

Sombrio e realista, o que não é necessariamente uma novidade para o personagem em termos cinematográficos, o filme faz o que ninguém jamais fez até hoje que é mergulhar na psique perturbada do personagem, se na trilogia Nolan descobrimos que a imagem do morcego visa provocar o medo nos oponentes através do uso da teatralidade, aqui temos essa ideia concretizada. 

(Warner Bros. Pictures/Reprodução)

O Batman de Pattinson é um personagem antissocial, recluso, imerso em seus próprios conflitos e cheio de raiva que está mais preocupado em simplesmente aterrorizar e espancar criminosos do que de fato ajudar a cidade como um herói, algo muito bem estabelecido no começo do filme, cena essa amplamente divulgada, onde quando questionado por um marginal quem ele é, sua resposta é “Eu sou a vingança”. 

Essa frase/ideia tem muito peso durante o filme e define não apenas o nosso protagonista, mas também ressoa em vários outros personagens na trama, de fato, parte da temática do filme é a diferença muitas vezes sutil entre a justiça e a vingança, bem como o peso de ceder a um ou outro.

Falando dos personagens coadjuvantes, temos aqui nada mais do que ouro, com atuações de ponta e convincentes, mesmo em momentos levemente cômicos, dramáticos e tensos os diálogos e atitudes de todos eles soam naturais e cheios de personalidade, tornando-os vivos e icônicos em tela, aqui vale um destaque para a atriz Zoë Kravitz com sua Selina Kyle sendo a mais bem representada em uma mídia live action até hoje, com suas habilidades, personalidade e motivações completamente alinhadas a essência da personagem que é complexa e muito bem construída. 

O longa conta com diversos vilões, alguns mais icônicos do que outros e é muito feliz em não se perder em nenhum deles, o próprio Charada agindo pelos bastidores sem nunca se revelar, com suas pistas complexas e jogos mentais se prova um excelente antagonista. Em seus poucos momentos sem máscara o ator Paul Dano consegue entregar um personagem perturbador, insano com motivações realistas e que causam desconforto, tanto para o espectador quanto para os próprios personagens do longa.

Mediante a um personagem tão capaz fisicamente quanto o Batman que nos é apresentado, o Charada aqui se prova um verdadeiro adversário, se não superior, para o homem-morcego no quesito de inteligência e perspicácia, fazendo dele um antagonista mais do que digno que, além de tudo, tem uma visão de mundo distorcida, obsessiva que confere ao personagem um nível de loucura inédito. 

Pattinson, por sua vez, também faz um trabalho magistral atuando basicamente com olhar, tanto como Bruce Wayne quanto como Batman, sendo muito difícil diferenciar ambos no filme, algo que, creio eu, tenha sido proposital. Bruce Wayne aqui é visivelmente um jovem atormentado, recluso e raivoso que, como vigilante, – ainda inexperiente e impulsivo – externa toda sua fúria contra o submundo da cidade, mostrando um comportamento às vezes quase suicida ao constantemente se pôr na frente dos tiros dos criminosos, o que reforça o aspecto intimidador e implacável do Batman no filme que faz com que os criminosos literalmente tenham medo de entrar em lugares escuros. 

As cenas de luta do filme são pontuais, executadas nos melhores momentos e mantendo o ritmo do filme, que poderia facilmente se tornar maçante para os fãs de ação, mas que aqui conta com ângulos de câmera criativos, uso dos cenários, além de contar com uma coreografia simplesmente visceral. O Batman não luta de maneira justa, limpa ou bonita, ele é violento e implacável, uma figura digna do medo que ele quer provocar em seus inimigos/ vítimas. 

(Warner Bros. Pictures/Reprodução)

O traje do morcego é o menos hightech mostrado até hoje nos cinemas, contudo, é também o mais realista e funcional. Com peças claramente acopladas e destoantes entre si, mas que por serem práticas e funcionais não causam estranhamento no espectador, aqui os equipamentos do personagem parecem mais reais e práticos, dando a sensação de terem sido “montados” e não “produzidos” como acontecia na trilogia Nolan. 

Observar tudo isso só é possível por que o longa se foca no Batman, mais do que em seu alter ego civil, já que o filme, em termos de narrativa, é um grande flerte com os filmes de detetive noir, com narrações em primeira pessoa do protagonista e reviravoltas típicas do gênero contudo, isso serve muito bem a uma figura que ostenta nos quadrinhos o título de “maior detetive do mundo”, pois aqui o foco é centrado na figura do próprio Batman que é por essência um detetive antes de um super-herói.

Essa é, em minha opinião, o maior acerto em um filme repleto de acertos, somos apresentados a uma Gothan City chuvosa e escura, de arquitetura tipicamente gótica, completamente entregue a corrupção, a máfia e a pobreza, um lugar sem esperança e opressivo, um tipo de cenário muito retrato em obras noir e o ambiente perfeito para o cavaleiro das trevas. 

Mediante a isso, só me resta concluir que este não apenas mais um “filme de super-herói do Batman”, mas sim, um thriller investigativo sombrio com um protagonista vingativo, uma obra prima que, em minha opinião, tem tudo para se nivelar ao clássico “Cavaleiro das Trevas” de Chistopher Nolan. Na verdade, o filme conta até mesmo com uma origem deveras superior às outras já apresentadas, já que em suas quase três horas de duração vemos a transformação do vigilante implacável em uma figura verdadeiramente heroica, um símbolo de esperança ao invés da encarnação do medo.

Conclusão

The Batman é um filme inovador, sombrio e muito realista, mas que se prende às essências de todos os personagens, ele não tenta esconder que veio das HQs, pelo contrário, traz elementos delas e os incorpora à narrativa ao invés de meras referências, compondo um universo muito mais rico do que já nos foi apresentado antes. Aqui temos a essência do personagem e de todo o seu microcosmo sob uma perspectiva que não era nova, nem original, mas que se provou capaz de trazer algo completamente novo

THE BATMAN é mais do que o filme do Batman que todos nós queremos, é o filme que o Batman merece.

Para mais posts sobre de Stefan Costa, acesse aqui.

Stefan Costa

"Professor de Geografia, leitor voraz, tagarela de muitas ideias e aspirante a escritor."

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